Ao cair da noite de 25 Setembro 2010


Ao cair da noite do dia 25 de Setembro de 2010, encontramo-nos a cerca de 45 milhas do nosso próximo local de atracação, Jacarta capital da Indonésia, onde iremos atracar amanhã pelas 09:00. Durante os últimos dias onde cruzamos os mares das Flores e de Java. A chuva, finalmente fez a sua aparição, fazendo companhia praticamente todos os dias ao longo da tirada, dificultando a execução de algumas tarefas a bordo. São agora 20:00, navegamos na latitude 5 41 93 S e na longitude 107 15 60 E, ao rumo 270, á velocidade de 9.5 kn.

Jacarta é a capital e maior cidade da Indonésia. Situa-se na ilha de Java e conta com cerca de 18,2 milhões de habitantes na sua área metropolitana. Foi fundada em 1619 pelos holandeses com o nome de Batávia, junto à aldeia javanesa de Jacarta. Foi ocupada pelos ingleses entre 1811 e 1814. Tomou o nome actual em 1949.
Jacarta começou como um pequeno porto junto a um monte ao lado do rio Ciliwung no século XV. Alguns europeus falam de um povoado denominado Kalapa. Era o maior porto do reino hindu de Sonda. A primeira frota europeia foi portuguesa, e chegou à zona em 1513 com quatro navios procedentes de Malaca, em busca de uma rota para as especiarias e, em particular, pimenta. O Reino de Sonda fez um acordo de paz com Portugal para permitir que em 1522 os portugueses construíssem um porto com o objectivo de os defender contra o aumento de poder do Sultanato de Demak do centro de Java.
Jacarta fica na costa noroeste da ilha de Java, junto ao rio Coligue na baía de Jacarta, que é uma entrada do mar de Java. A parte norte de Jacarta assenta sobre uma terra plana, aproximadamente a oito metros acima do nível do mar, o que contribui para que se formem as habituais inundações. A zona sul da cidade é mais montanhosa. Há aproximadamente 13 rios que correm em Jacarta, sobretudo das partes montanhosas do sul da cidade para o norte e mar de Java. O rio mais importante é o Ciliwung, que divide a urbe em duas zonas: leste e oeste. Jacarta limita geograficamente com a província de Java Ocidental a leste e com Banten a oeste.

Inicio de manhã do dia 26 de Set. acordamos com muita chuva, previa-se uma atracação semelhante á de Xangai, um tanto ao quanto molhada. Felizmente desta vez o São Pedro está do nosso lado, a chuva parou momentos antes de atracar. Eram 09:00 locais quando passamos a primeira espia a terra, acabamos de chegar a Indonésia. Como tem sido habito, fomos recebidos por uma banda militar, algumas individualidades locais, e pelo Embaixador de Portugal em Jacarta, que no fim do dia nos recebeu na Embaixada de Portugal, onde fomos brindados com uma magnífica recepção.

RUMO A INDONÈSIA …


Dia 18 de Set. chegou ao fim mais uma estadia, em mais uma cidade, Díli. Eram 08:40 quando o mestre apitou a faina geral, a guarnição ocupa os seus postos de faina, larga-se os cabos de amarração, e dá-se inicio a mais uma tirada. Após a nossa estadia na jovem nação de Timor, onde foram aproveitadas todas as oportunidades para recarregar baterias, para os últimos três meses de missão, onde desfrutamos das águas tépidas e suas praias de areia branca, onde saboreamos a maravilhosa gastronomia portuguesa (o famoso cozido a portuguesa, o teclado, o excelente peixe grelhado, etc.) mais parecia que estávamos algures, no nosso Portugal. Convivemos com os muitos militares portugueses, GNR, PSP, camaradas da marinha e outros lusitanos que se encontram nestas paragens nos mais variados serviços.
Dia 19 de Setembro, precisamente hoje celebramos 8 meses de viagem, 8 longos meses de saudade, saudade daqueles que nos viram partir, naquela manhã fria de Janeiro do cais Rocha Conde Óbitos em Alcântara. Domingo, primeiro dia de tirada, como é hábito, dia de alvorada surda, os marujos levantam-se aos poucos, pois o dia convida ao descanso, no exterior o sol quente, o mar esse sempre calmo, como praticamente tem sido apanágio durante toda a missão. Iniciamos mais uma tirada, de 1 150 milhas (2 129 km) que nos vai levar a Jacarta, capital do maior arquipélago do mundo (constituído por 13 677 ilhas) Indonésia, onde está previsto atracar na manhã do dia 26 de Set.
Aos primeiros alvores do dia 20 (principio de noite em Lisboa), chega a brilhante notícia via telefone, de que o glorioso vencia o rival Sporting por 2-0, finalmente uma alegria para o universo Benfiquista da Barca, pois este inicio de época não tem sido nada fácil para as cores encarnadas.
Depois de dois dias de alvorada surda, onde predominou o descanso dos guerreiros, acordamos ao som de mais uma alvora orquestrada pelo clarim do Mar. Calçoa, inicio da manhã com muita chuva, onde recuperamos a rotina diária, alguns dos serviços que ficaram pendentes do dia interior, como envergar a vela do sobre, e desenvergar o joanete a fim de ser costurado pela máquina que se encontra no paiol do mestre, manobra que requereu alguma destreza dos marujos do grande. Com o desenrolar da viagem o material começa a ceder ao desgaste do tempo, as costuras das velas começam a enfraquecer e com a força do vento.

Dili - Timor Leste


DÍLI…
Díli situa-se na costa norte da ilha de Timor, onde é capital e simultaneamente distrito, onde é o mais pequeno e ao mesmo tempo o mais populoso de Timor Leste, com uma população de 150 000 habitantes, 20% da população do país, limita com os distritos de Manatuto a leste, Aileu a sul e Liquiça a oeste. A cidade de Díli é um centro administrativo e comercial com alguns traços portugueses, não tivesse sido uma ex. colónia. Ao longo da sua avenida marginal, onde permanece um local de comércio e lazer um destino favorito para passeios nocturnos e de fim-de-semana. A moeda oficial é o Dólar americano. O movimento desconcertante do trânsito, onde ser peão é uma aventura, as buzinas ininterruptas dos táxis em busca de potenciais clientes, cada vez que o olhar do motorista se cruza com um estrangeiro. As cores da cidade são o cinzento e o castanho, polvilhado de quando em vez por um verde opaco de algumas palmeiras e outras árvores centenárias que resistiram aos tempos de ocupação da Indonésia, quem chega de novo a cidade, estranha os imensos rios secos, onde despejam no mar o seu cascalho. As Nações Unidas permanecem no terreno, ainda com algum aparato apesar de a situação em geral estar a melhorar de dia para dia. País onde as infra-estruturas, ainda são precárias, mas o problema é que se trata de um país pobre e ainda muito jovem, mas que tem uma perspectiva de futuro próspera. País de apenas dez anos de vida, de uma nova nação, onde é um período muito curto, onde há problemas económicos sociais e estruturais. Embora a língua oficial seja o português, apenas 10% da população fala o idioma de Camões correctamente, apesar do grande esforço dos muitos professores portugueses que se encontram a leccionar por estas paragens longínquas. Esta pequena percentagem que fala português, concentra-se entre os habitantes que viveram no tempo da colónia portuguesa. Os mais jovens falam sobretudo o “tatum”, língua local que substitui o “bahasa” indonésio. Povo que viveu um dos piores massacre que a memória, massacre no cemitério de Santa Cruz, imagens que correram mundo e que jamais nos sairão da memória. A vida de um povo de guerrilheiros que sempre lutaram pela independência do país que amavam. Um olhar para um passado recente de muita dor e sofrimento, para todo este povo, aqui vai a minha sentida homenagem. VIVA TIMOR-LESTE…

Fotos Festa Rei dos Mares e chegada a Timor

Foto enviada pelo Sr. Rui Fernandes

É com enorme prazer que partilho com todos os seguidores deste blog esta maravilhosa foto que me foi enviada pelo autor da mesma, Sr.Rui Fernandes e esposa, a quem agradeço as palavras que em baixo partilho com todos.
Muito obrigado.



(Clicar na foto para ampliar)


Depois de um dia a visitar o Museu de Xangai, e de escaparmos a uma tremenda chuvada como pudemos perceber pelos visitantes encharcados que lá iam entrando, no regresso ao nosso hotel decidimos tentar ver a panorâmica nocturna de Pudong a partir de um dos hotéis do lado oposto, o "Hyatt On The Bund"

A panorâmica é, de facto, espantosa. Quando me preparava para fotografar, a minha esposa chamou-me a atenção para um barco atracado muito próximo do Hyatt, em primeiro plano. Parecia mesmo a "nossa" Sagres... e depois vimos a bandeira Portuguesa! Era mesmo a Sagres!

Não é possível descrever a emoção e a felicidade de ver um bocadinho do nosso país ali mesmo à nossa frente.

Curiosamente, a minha esposa descobriu depois, já em Portugal, que foi nesse mesmo dia que a Sagres atracou no porto de Xangai, e que a chuvada descrita no blog foi a tal a que escapámos enquanto estávamos a visitar o Museu.

Penso que não será possível esquecer este momento, um dos mais altos da nossa visita à China, obrigado!

Rui e Dora

CHEGADA A TIMOR-LESTE…


Eram 18:00 do dia 4 de Set. quando o som potente da sereia de bordo ecoa por todo o navio, estamos a passar dos 0 graus de latitude, terceira vez que transpomos a linha do Equador. No dia seguinte, mais uma vez se fez cumprir as tradições navais, pois estavam a bordo quatro intrusos, que nunca tinham ultrapassado a famosa linha do Equador. Mais uma vez a corte do Rei Neptuno subiu a bordo, mais um julgamento se iniciou, os réus foram condenados e multados, com coimas de caixas de néctar com o nome da Barca e garrafas do melhor malte de bordo.
As primeiras horas da manhã do dia 7 de Set. avistamos pela primeira vez Timor Leste, a ilha Atáuro onde permanecemos a pairar durante dois dias a fim de preparar o navio para atracar em Díli, dia 12 de Setembro, três dias antes do que estava previsto no planeamento. No dia nove, entramos no porto que serve Díli onde fundeamos durante algumas horas a fim de embarcar alguns militares Timorenses que irão navegar, durante os próximos dias a bordo da Barca, uma forma de dar a conhecer a vida a bordo de um navio da Republica Portuguesa, e poderem ganhar alguma experiencia com tão bravos e ilustres marinheiros. Depois de suspender e sair do porto, começamos a caçar pano, para desfraldar orgulhosamente as cruzes de Cristo ao vento, para espanto dos jovens militares, que momentos antes tinham embarcado. Dia dez, pela manhã aproximamo-nos do enclave Oe-Cussi, onde fundeamos e iremos permanecer até ao fim do dia.
Timor leste ocupa pouco mais de metade da ilha de Timor, incluindo o enclave de Oe-Cussi, a ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco, num total de cerca de 19000Km2, numa área semelhante à do Alentejo. Fica distanciado de Portugal cerca de 16000 km, 3300 de Macau, e 430 de Darwin.
Com a conquista de Malaca, em 15 de Agosto de 1511, abriram-se aos Portugueses as portas das famosas ilhas das especiarias e de Timor, e onde provinha o sândalo muito apreciado no Oriente. Não foi possível, até hoje, fixar a data nem o autor da descoberta; Timor terá sido citado pela primeira vez em 6 de Janeiro de 1514; numa carta em que Rui de Brito fala da ilha D. Manuel I. Assim é geralmente aceite que a descoberta de Timor pelos portugueses se efectuou entre 1512 e 1520, possivelmente em resultado de uma das muitas viagens dos navios portugueses por aquelas paragens.
No final do século têm inicio as lutas com os Holandeses, que disputavam a posse das ilhas das Flores e Solor e também de Timor, no mesmo arquipélago. Apesar de um tratado de tréguas assinado em Lisboa em 1641, em 1651 os Holandeses tomaram Kupang. Os problemas latentes entre Portugueses e Holandeses reacendem-se em 1818 e terminam com o tratado assinado em 1851 em que Portugal, cedeu à Holanda as ilhas de Flores e Solor, recebendo em troca o enclave de Maubara.
Entretanto em 1844, Macau e Timor passaram a constituir um governo independente da Índia, e em 1896, Timor ficou independente de Macau. Aproveitando a perturbação da implementação da Republica em 1910, os Holandeses, fizeram-se sentir de novo em Timor, incitando as populações à revolta. A Segunda Guerra Mundial teve reflexos intensos em Timor. Em 1941 um contingente de tropas Holandesas e Australianas desembarcou em Timor, ao mesmo tempo que na costa norte desembarcavam os Japoneses, com os quais desencadearam violentos combates.
Durante a ocupação que durou de Fevereiro de 1942 a Setembro de 1945, só a 13 de Setembro de 1945 as tropas Japonesas foram derrotadas. A 29 de Setembro de 1945 chegam a Timor os avisos da Armada Portuguesa; Bartolomeu Dias e Gonçalves Zarco, transportando tropas restaurando assim a soberania plena de Portugal.
Até 25 de Abril de 1974, Timor era o território mais esquecido do nosso ultramar, onde 75% da população era analfabeta.Com o golpe do 25 de Abril, o programa do MFA apresentado para Timor sustentava alguma indefinição. Em Timor aparecem as associações políticas; UDT; FRETILIN; APODETI; KOTA. Lisboa tem uma grande indefinição demasiado prolongada na política de descolonização para Timor. Na madrugada de 11 de Agosto de 1975, a UDT com alguma pressão de Jacarta e temendo eleições face às inclinações para a doutrina comunista por parte de FRETILIN, faz um golpe armado e tenta controlar o território recebendo da FRETILIN uma resposta que deu origem ao “Verão quente em Timor”.
A representação Portuguesa refugia-se na ilha de Ataúro evacuando Dili; a guerra civil avassala Timor Leste. Aproveitando a desordem no território, no dia 7 de Dezembro de 1975, forças Indonésias desembarcam em Díli apoderando-se do território.
Em 17 de Julho de 1976, o parlamento Indonésio aprovou por unanimidade Timor Leste como a 27ª província Indonésia. Perante a ONU, nunca foi reconhecido qualquer direito á Indonésia, Timor era visto como território não autónomo de jurisdição Portuguesa.
Durante estes anos a Indonésia espalhou o terror em Timor, retirando ao seu povo as suas raízes, a sua cultura e matando os seus filhos.
Timor-Leste é a mais novo estado da Ásia, proclamando-se nação no dia 20 de Maio de 2002.

Parabens camarada Afonso







Hoje dia 4 de Setembro é um dia especial para um não menos especial marujo desta ilustre Barca. Algures em Almada, está-se a celebrar o seu matrimónio. Camarada Afonso, para ti para a tua esposa, em nome de toda a guarnição, desejamos-te que tenhas aquele dia que sempre ambicionaste, muitas felicidades e que as pré-nupcias te corram ás mil maravilhas, nós cá te esperamos de volta.

Dia 3 setembro .....


A bordo os dias sucedem-se serenamente, ao sabor da rotina diária, hoje dia 3 de Setembro, continuamos a avançar rumo a Timor-Leste, nesta que é uma das maiores tiradas da viagem. Depois de nos termos livrado da fúria de três tufões (com alguma sorte, mas sorte protege os audazes!) no mar do sul da China, permanecemos a navegar para sul, onde durante alguns dias navegamos junto do arquipélago das Filipinas, sempre por bombordo. País formado por um arquipélago com 7100 ilhas, situado no oeste do Oceano Pacifico, tem como capital Manila. Durante o fim-de-semana, onde fomos fustigados por fortes aguaceiros e alguma agitação do mar, o que provocou estragos numa das velas de proa (bujarrona de dentro), situação que levou os marinheiros do Gurupés a terem trabalho extra durante todo o Domingo. A semana começou tranquila, e devido á tirada ser longa, as secções aproveitam para executar alguns dos serviços mais morosos, como tratamento de madeiras (vernizes), o tempo esse, não tem colaborado para realização deste tipo de trabalhos, devido aos muitos aguaceiros que ocorrem nestas latitudes, durante esta época do ano, efectua-se também alguns trabalhos de marinharia que requerem alguma e destreza e perspicácia dos marinheiros mais antigos. Também se aproveita para executar alguns exercícios como, avaria no leme, exercício de homem ao mar, exercício de defesa própria do navio contra ataques de presumíveis piratas. Durante a tarde de quarta-feira, mais uma vez o navio este aberto a banhos nestas águas tépidas (28o) desta zona do globo, à noite ouve um jantar convívio no poço para toda a guarnição. Navegamos agora em águas que banham a Indonésia, país do sul da Ásia, constituído por 13 677 ilhas (das quais 6 000 não são habitadas), Indonésia é o maior arquipélago do mundo, a capital é Jarcata, próxima paragem depois de Dili.
Nesta etapa da nossa viagem aproximamo-nos de uma zona onde é preciso tomar precauções contra a Malária. Doença que se transmite pela picada de mosquitos que provoca febres muito elevadas, acima dos 40o, onde pode provocar a morte. Hoje o serviço de saúde começou a realizar a profilaxia que consiste na toma de 1 comprimido uma semana antes de chegar a zona endémica, mantendo essa toma semanal até quatro semanas depois de sair da zona endémica.
No inicio do mês de Setembro tínhamos percorrido 25 514 milhas (47 251 km), sendo 19 114 milhas a motor e 6 400 a vela perfazendo 3 434 horas de navegação, faltando hoje dia 3 Set. 110 dias para chegarmos ao porto mais aguardado de toda a viagem, o porto da bela cidade de Lisboa.